sábado, 19 de novembro de 2011


O vento despertou-me antes do amanhecer. Na verdade eu mal havia dormido. Aparentemente, tudo corria bem. Todos dormiam tranqüilos, menos eu. Meu corpo rolava na cama, como se sua alma inquieta quisesse e pudesse deixá-lo a qualquer instante. 
Passos rápidos levaram-me por caminhos tão desconhecidos, tão estranhos pra mim. E depois de correr e despencar de um infinito desfiladeiro, sinto como se meu corpo finalmente tocasse o chão. De forma ruidosa e dolorida.
Então os olhares se voltaram pra mim: Uma bruxa que não voa? Uma bruxa que se deixa levar tão facilmente pelos imprevistos do caminho?
Não sei ao certo o que dizer, mas sei que algo precisa sair de minha garganta, antes que me sufoque sem dó nem piedade.



* Ao som de The Verve - Bittersweet symphony

quarta-feira, 13 de abril de 2011

"Que a estrada se abra à sua frente, Que o vento sopre levemente em suas costas, Que o sol brilhe morno e suave em sua face, Que a chuva caia de mansinho em seus campos. E até que nos encontremos de novo... Que os Deuses lhe guardem nas palmas de suas mãos." (prece irlandesa)

Minha avó, meu amor, minha rainha, minha eterna saudade.
Dona Cila - Maria Gadú
  
De todo o amor que eu tenho
Metade foi tu que me deu
Salvando minh'alma da vida
Sorrindo e fazendo o meu eu

Se queres partir ir embora
Me olha da onde estiver
Que eu vou te mostrar que eu to pronta
Me colha madura do pé
Salve, salve essa nega
Que axé ela tem
Te carrego no colo e te dou minha mão
Minha vida depende só do teu encanto
Cila pode ir tranquila
Teu rebanho tá pronto
Teu olho que brilha e não para
Tuas mãos de fazer tudo e até
A vida que chamo de minha
Neguinha, te encontro na fé
Me mostre um caminho agora
Um jeito de estar sem você
O apego não quer ir embora
Diaxo, ele tem que querer
Ó meu pai do céu, limpe tudo aí
Vai chegar a rainha
Precisando dormir
Quando ela chegar
Tu me faça um favor
Dê um banto a ela, que ela me benze aonde eu for
O fardo pesado que levas
Deságua na força que tens
Teu lar é no reino divino
Limpinho cheirando alecrim

quinta-feira, 10 de março de 2011

"Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira. " (Cecília Meireles)

Saudações, nobres companheiros de jornada!

Nos ultimos dias, uma brisa tocou meu rosto de forma suave. Parecia um carinho, e um chamado.
Parecia sussurar meu nome, e me implorar um pouco de atençao. Foi então que vi meu reflexo no espelho, e então eu não me reconheci. Quem era aquela estranha no espelho? Não sei. Não conheço e nunca vi mais estranha. Os olhos perdidos e frios olhando pra mim como se eu não fosse nada. A expressão dura, com um falso sorriso mal colocado nos labios silenciosos. A aspereza da pele, os cabelos presos de qualquer jeito, as roupas simples e tão diarias. Era um quadro de tudo o que eu nunca quis ser. Refletia tudo aquilo que eu sempre neguei. O que tinha acontecido? Onde foi que eu tropecei e vim ao chão, sem previsao de retorno? Não sei. Não vi. Ninguém viu, eu acho.
Mas o mais importante agora é, como voltar! Não sei ao certo como resgatar tudo o que deixei pelo caminho. Tudo o que abandonei, sem pestanejar e sem sentir...
O dia a dia me consome tanto que nem senti meu sonho se realizar. As energias ruins se tornaram tao maiores do que as minhas energias, que eu fiquei fraca. Onde foi que eu me rendi? Não sei.

Quantos “não sei” eu usei aqui. Justo eu. Tao certa. Tao decidida.


"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"

(Cecilia Meireles)






PANORAMA ALÉM

Não sei que tempo faz, nem se é noite ou se é dia.
Não sinto onde é que estou, nem se estou. Não sei de nada.
Nem de ódio, nem amor. Tédio? Melancolia.
-Existência parada. Existência acabada.

Nem se pode saber do que outrora existia.
A cegueira no olhar. Toda a noite calada
no ouvido. Presa a voz. Gesto vão. Boca fria.
A alma, um deserto branco: -o luar triste na geada...

Silêncio. Eternidade. Infinito. Segredo.
Onde, as almas irmãs? Onde, Deus? Que degredo!
Ninguém.... O ermo atrás do ermo: - é a paisagem daqui.

Tudo opaco... E sem luz... E sem treva... O ar absorto...
Tudo em paz... Tudo só... Tudo irreal... Tudo morto...
Por que foi que eu morri? Quando foi que eu morri?



(Cecilia Meireles)










* Ao som de Under the Bridge - RHCP.