quinta-feira, 10 de março de 2011

"Aprendi com as Primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira. " (Cecília Meireles)

Saudações, nobres companheiros de jornada!

Nos ultimos dias, uma brisa tocou meu rosto de forma suave. Parecia um carinho, e um chamado.
Parecia sussurar meu nome, e me implorar um pouco de atençao. Foi então que vi meu reflexo no espelho, e então eu não me reconheci. Quem era aquela estranha no espelho? Não sei. Não conheço e nunca vi mais estranha. Os olhos perdidos e frios olhando pra mim como se eu não fosse nada. A expressão dura, com um falso sorriso mal colocado nos labios silenciosos. A aspereza da pele, os cabelos presos de qualquer jeito, as roupas simples e tão diarias. Era um quadro de tudo o que eu nunca quis ser. Refletia tudo aquilo que eu sempre neguei. O que tinha acontecido? Onde foi que eu tropecei e vim ao chão, sem previsao de retorno? Não sei. Não vi. Ninguém viu, eu acho.
Mas o mais importante agora é, como voltar! Não sei ao certo como resgatar tudo o que deixei pelo caminho. Tudo o que abandonei, sem pestanejar e sem sentir...
O dia a dia me consome tanto que nem senti meu sonho se realizar. As energias ruins se tornaram tao maiores do que as minhas energias, que eu fiquei fraca. Onde foi que eu me rendi? Não sei.

Quantos “não sei” eu usei aqui. Justo eu. Tao certa. Tao decidida.


"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"

(Cecilia Meireles)






PANORAMA ALÉM

Não sei que tempo faz, nem se é noite ou se é dia.
Não sinto onde é que estou, nem se estou. Não sei de nada.
Nem de ódio, nem amor. Tédio? Melancolia.
-Existência parada. Existência acabada.

Nem se pode saber do que outrora existia.
A cegueira no olhar. Toda a noite calada
no ouvido. Presa a voz. Gesto vão. Boca fria.
A alma, um deserto branco: -o luar triste na geada...

Silêncio. Eternidade. Infinito. Segredo.
Onde, as almas irmãs? Onde, Deus? Que degredo!
Ninguém.... O ermo atrás do ermo: - é a paisagem daqui.

Tudo opaco... E sem luz... E sem treva... O ar absorto...
Tudo em paz... Tudo só... Tudo irreal... Tudo morto...
Por que foi que eu morri? Quando foi que eu morri?



(Cecilia Meireles)










* Ao som de Under the Bridge - RHCP.